Ciclo discute combate a assédio, discriminação e más condutas no âmbito institucional
O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região sediou, nos dias 16 e 17 de julho, o Ciclo de Integridade do TRT-2, evento que buscou discutir os principais temas envolvidos na garantia de um ambiente de trabalho livre de assédios, de discriminações e de más condutas que prejudiquem as instituições e a própria prestação de serviços. Confira o álbum de fotos neste link.Um dos temas centrais do ciclo foi a inclusão e a erradicação da cultura discriminatória arraigada nas práticas de órgãos. Eliane Jocelaine Pereira, primeira mulher negra a ocupar a Secretaria Municipal de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas em Campinas-SP, relata que na jornada de servidora pública levou mais tempo que a média para atingir posições e cargos de gestão em razão de sua origem, o que mostra a importância de se promoverem ações concretas nessa área.A secretária defende que uma instituição deve corresponder ao caráter heterogêneo da sociedade brasileira e que as políticas afirmativas de mudança são essenciais nesse contexto. “Não temos como oferecer um serviço de qualidade e excelência sem compreender o retrato do Brasil real”, pontuou.Para o desembargador-presidente do TRT-13 (Paraíba), Thiago de Oliveira Andrade, garantir a integridade no quesito da igualdade exige ações práticas. Segundo o magistrado, os órgãos precisam sair do discurso e avaliar o que fazem, efetivamente, tanto no âmbito interno quanto externo; quais ações afirmativas estão desenvolvendo para fomentar igualdade racial e de gênero; e quais são os resultados obtidos.Ainda de acordo com o gestor da 13ª Região, o olhar enviesado dos que detêm as posições de poder faz com que a meritocracia seja um mito já desbancado em inúmeros estudos. Um deles, envolvendo a Orquestra Filarmônica de Nova York, demonstrou que a participação feminina só cresceu entre os músicos depois que a seleção passou a ser feita às cegas.AssédioA desembargadora do TRT-15 (com sede em Campinas-SP) Luciane Storer mencionou levantamentos do Conselho Nacional de Justiça que ainda mostram quadros preocupantes sobre assédio: 58% dos(as) servidores(as) que responderam à pesquisa realizada pela instituição relataram já ter sofrido assédio ou discriminação. Para lidar com o quadro, a magistrada menciona algumas das iniciativas da 15ª Região, como círculos de desenvolvimento de habilidades socioemocionais e capacitação para práticas restaurativas na solução de conflitos.Para Carla Cristina Gomes Arede, auditora da Controladoria Geral da União, a pessoa que pratica assédio moral se vê autorizada a manter as práticas por não sofrer consequências reais. “Avaliação direta dos gestores não têm muita função, pois o avaliado tem poder de pressão e mantém o ciclo”, disse. O que poderia se aproximar de uma solução, segundo a profissional, seriam programas de qualidade de vida em que trabalhadores descrevessem suas insatisfações, resultando em interferência na parte variável da remuneração dos gestores, por exemplo. “Seria um meio de impactar negativamente o assediador para que as ações surtissem efeitos reais com o tempo”.No que diz respeito ao combate a corrupção, a auditora abordou ferramentas de gestão de pessoas que podem ser aplicadas no âmbito institucional no sentido de evitar a quebra de integridade. A metodologia sugerida passa pela identificação dos processos que envolvam atos de corrupção, avaliação dos riscos e levantamento de informações para subsidiar o tratamento de riscos.Ainda, a violência doméstica, como elemento capaz de impactar a qualidade de vida dos integrantes das instituições e quebrar a integridade, foi abordada ao longo do evento. A juíza do TRT-2, Yara Campos Souto, debateu sobre métodos de enfrentamento a esse tipo de agressão praticada contra magistradas e servidoras, listando as principais dificuldades e como superá-las de um ponto de vista institucional.AberturaO evento foi aberto pela desembargadora-presidente Beatriz de Lima Pereira, para a qual a integridade é uma garantia fundamental para o ambiente de trabalho. O diretor da Escola Judicial da 2ª Região, desembargador Alvaro Alves Nôga, também compôs a mesa e parabenizou os recursos de acessibilidade da ocasião, que, segundo o magistrado, também fazem parte da política de integridade.